Pedro Barateiro | Vento, Hangar

«O HANGAR – Centro de Investigação Artística apresenta Vento, uma exposição de Pedro Barateiro e Mário Varela Gomes. Pedro Barateiro convidou o arqueólogo e fotógrafo Mário Varela Gomes a apresentar uma série de fotografias, tiradas em Lisboa nos dias 25 e 26 de Abril de 1974. As fotografias documentam a ocupação às instalações da Comissão de Censura, na Rua da Misericórdia, por um grupo de pessoas que entram nos escritórios e lançam pela janela provas de censura. O registo deste momento é o ponto de partida para uma reflexão sobre as várias crises engendradas pelos vários regimes totalitários desde o início do capitalismo moderno e colonial, e a forma como estes ainda se manifestam no presente.
As fotografias de Mário Varela Gomes são uma ferramenta para examinar a nossa relação com os imaginários pessoal e coletivo, e tal como as esculturas da série Bússola de Pedro Barateiro, servem para questionar a desorientação e a falta de engajamento político nas discussões públicas. As fotografias da ocupação às instalações da Comissão de Censura servem para lembrar que devemos usar factos contra a ignorância, especialmente à luz dos acontecimentos de violência sistemática, no que diz respeito à ideia de “liberdade de expressão”. A necessidade de trazer para o presente as fotografias de Mário Varela Gomes, deverá servir para questionar a redução do espaço de discussão dentro das sociedades ocidentais, onde a “liberdade de expressão” é publicitada nos media e nas redes sociais que sabemos estarem dependentes de algoritmos manipulados para maximizar lucro privado. Esse questionamento é mais do que necessário num momento em que a apatia produzida pelas políticas repressivas e pelo entretenimento é tão paralisante.
O título da exposição remete para a importância do vento na forma como este recurso natural foi manipulado desde a campanha colonial portuguesa. Os desenvolvimentos científicos que permitiram o aparecimento de novas ferramentas de navegação, tal como o domínio das correntes de água, levaram um grupo de seres a massacrar, escravizar e contaminar outros com o propósito de os “civilizar”. Como a narrativa nos conta, este é o início da globalização moderna e do capitalismo, que se expande desde o século XV.
A cultura europeia ocidental, baseada na tentativa do domínio da natureza através da agricultura, foi planeando uma expansão dos seus dogmas. Aparentemente libertado da religião, o desenvolvimento da ciência, bem como os mitos centrados no ser humano — e as suas múltiplas ficções — ajudaram a expandir a ideia de capital subjetivo privado como última forma de emancipação da mente e do corpo humano. A cultura foi forjada e manipulada por mentes humanas, realizada por corpos reprimidos. Uma cultura onde a repressão foi estabelecida e acarinhada levou a uma objectificação dos corpos humanos e não humanos através da arte e da ciência. A produção de objetos tornou-se uma obsessão e os espelhos foram aperfeiçoados para acompanhar e cumprir uma expansão cada vez maior do olhar humano. O choque era inevitável: um choque do próprio ser humano, do não humano, e do ambiente que o rodeia.
A exposição será acompanhada de textos de Marta Lança e Gisela Casimiro, um programa público a anunciar e uma edição de um poster com design de Márcia Novais. A exposição foi produzida em colaboração com o CRAC Alsace.
Em antecipação da exposição, no dia 7 de Julho às 20h30, Pedro Barateiro apresenta a peça sonora Love Song, em sessão live no contexto da residência Living Room no Cosmos, em Campolide.»

Retirado de: https://hangar.com.pt/vento/

 

Decorre entre 9 Julho e 10 de Setembro de 2022.
Horário | 15h – 19h, de Quarta a Sábado.