Rodrigo Oliveira | Um Falanstério à beira-mar e umas quantas Villas viradas a sul
29.mar.2012 | 19.mai.2012
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Press Release
<p>A Galeria Filomena Soares apresenta um conjunto de novas peças do artista Rodrigo Oliveira (Sintra, 1978), na exposição intitulada Um Falanstério à beira-mar e umas quantas Villas viradas a sul, de 29 de Março a 19 de Maio de 2012.</p>
<p>Rodrigo Oliveira tem vindo a desenvolver, através de uma panóplia de materiais e técnicas, um corpo de trabalho que apenas na sua forma visual aparenta uma incoerência. De facto, através do uso de materiais tão diversificados como, caixas de fósforos, tampas, palhinhas, vidros, acrílicos e tecidos, só para nomear alguns exemplos, o artista promove uma destabilização do olhar conceptual em prol da multiplicação de ideias sobre as suas obras. Nesta medida, as diversas camadas de sentido que cada obra trás consigo, nomeadamente a sua origem e história ou as suas referências e pontos de contacto, são progressivamente omitidas e desveladas em pequenos detalhes e imprecisões que colocam o espectador em alerta. Um dos interesses que o artista tem vindo a desenvolver é a relação entre os contextos históricos e os mecanismos de identificação cultural, social, económica e política dos objectos de uso quotidiano. Esta irónica reflexão, sempre crítica, envolve activamente o espectador a tomar um ponto de vista sobre o que presencia. Aparentemente o deslumbre dos objectos sensíveis provoca uma reacção interventiva de quem os observa. Questionando os seus significados e sentidos o espectador intervém com as suas referências e expectativas na descodificação da própria obra revelando, desde modo, novas visões e novas inter-relações que beneficiam e aumentam o potencial da mesma. Este efeito vai ao encontro das interrogações que o artista tem vindo a identificar nos mecanismos do poder instituído e na legitimação do sistema artístico através da cínica transformação dos modelos impostos, nomeadamente da arquitectura utópica modernista.</p>
<p>A série Directório Espacial (2012) reflecte sobre o modo como a história da arquitectura modernista influência e promove estilos de vida determinados em detrimento de outros. As plantas, apresentadas cronologicamente, representam certas casas modernistas em códigos de cor específicos que parecem colar-se ao minimalismo. Contudo, o material de que são feitas – feltro – e a propositada imprecisão da técnica das mesmas denotam uma transformação dos modelos em “esculturas improvisadas” que desconstroem os modelos ocidentais desejados. O feltro usado habitualmente na indústria automóvel, construção civil e indústria têxtil, devido às suas características isolamento térmico e sonoro, é utilizado pelo artista como um material de uma sensibilidade táctil e visual notável. Este desajuste técnico permite vislumbrar uma intromissão “exótica” na arquitectura modernista, que questiona o rigor do desenho modelar original.</p>
<p>Poderá ser nesta relação com a figura do “outro”, que se pode relacionar o outro conjunto de obras da exposição intituladas Uma pedra no sapato (2012). Os chinelos de mármore de várias cores com as tiras das reconhecidas havaianas brasileiras também residem entre duas propostas irreais e impossíveis. O mármore usado como material nobre revestia (e reveste) as paredes e o chão das referidas casas modernistas mas o artista, ao usa-lo como solas de umas simples chinelas, desloca-o de sentido e de utilidade. Este pequeno gesto artístico provoca uma sensação de estranheza que, simultaneamente, impele e atrai o espectador ao objecto. A aproximação a uma linguagem não ocidental, com claras referências à cultura brasileira, denota o interesse que o artista nutre pelo questionamento crítico dos modelos dogmáticos ditos ocidentais e civilizados. Se por um lado, estes modelos foram desenvolvidos segundo uma lógica do poder institucional vigente, por outro lado, as novas vicissitudes do mundo globalizado em que vivemos vêm permitir novas leituras que reavaliam os ditos modelos históricos em prol de uma sociedade mais permissiva e multicultural.</p>
<p>Em ambos os trabalhos da exposição se pode verificar uma mesma transformação mas em sentidos opostos. As plantas das casas são construídas através de um material comum – feltro – para recriar uma casa de luxo, enquanto os chinelos são construídos com um material nobre – mármore – para produzir um objecto ordinário. Esta disfunção permite alertar para uma nova visualidade que acelera os mecanismos de percepção conceptuais. De facto, o desajuste intromete-se na correcta leitura entre a forma e a utilidade, provocando constantes dúvidas e questões sobre aquilo que se vê e, de igual modo, aquilo que se sente.</p>
<p>A fotografia do interior da casa de Einstein, em Caputh, Alemanha tem como título Intervenção Localizada (Casa Eisnstein, Caputh, 90º) (2012). O artista intervém ligeiramente na fotografia questionando a veracidade e a falsidade do interior da casa. Desenhada em 1929 por Konrad Wachsmann a moradia correspondia a um estereótipo modernista determinado pelo gosto de Einstein. Ao alterar a fotografia o artista cria uma espécie de reavaliação do paradigma reivindicado na época, interpondo que o que seria válido naquele tempo e local e é questionável fora desse mesmo espaço-tempo. Esta premissa tem sido amplamente desenvolvida pelo artista em diversos “site” e “context-specific” onde interroga sobre específicos locais, objectos e contextos, misturando diversas referências culturais e sociais.</p>
<p>Em jeito de conclusão, sendo que no caso do Rodrigo Oliveira nunca se encerra, a exposição Um Falanstério à beira-mar e umas quantas Villas viradas a sul parece residir numa dicotomia que destabiliza o espectador mais céptico. Por um lado, o rigor do Falanstério idealizado pelo o filósofo francês Charles Fourier (1772-1837) consistia numa grande construção que reflectia utopicamente a organização harmoniosa comunista e das Villas (romanas ou modernistas) construídas a partir da rentabilização do espaço e, por outro lado, o humor da poesia e do romantismo da beira-mar e do sul (talvez mesmo do hemisfério sul) reflectem a controversa dicotomia das duas posições opostas mas, mais do isso, permite equacionar os múltiplos conceitos e ideias que contém a distância entre ambas.</p>
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