Rodrigo Oliveira | Sexo, Escondidas e uma Parede
24.jan.2019 | 04.mai.2019

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Press Release

<p>Rodrigo Oliveira | Sexo, Escondidas e uma Parede<br /> Curadoria: Isabel Carlos</p> <p>Inauguração 24.01 – 21h30<br /> On view 24.01 – 04.05.2019</p> <p>A arquitectura e o urbanismo sempre foram a matéria de referência da obra de Rodrigo Oliveira (Sintra, 1978), explorada em múltiplos suportes com predominância da escultura e da instalação, mas sempre com um forte cromatismo, intenso e amplo. Mas nunca a pintura tinha sido o registo eleito.<br /> “Sexo, Escondidas e uma Parede”, o título da sexta exposição individual do artista na Galeria Filomena Soares, mostra uma instalação, esculturas e 100 pinturas sobre cartão madeira num jogo de lentes – ora ampliando, ora ocultando – com as imagens das gravuras tradicionais japonesas Shunga (em tradução livre, pinturas da primavera) e os biombos Namban.<br /> Entre 1600 e 1900 no Japão foram produzidos milhares de pinturas, gravuras e livros ilustrados com cenas explicitas de sexo; quase sempre ternas, divertidas e bonitas, estas imagens veiculam um sentido positivo e livre do prazer sexual, acessível a todos. Apesar do regime japonês desses séculos assentar em estritas leis seguindo a doutrina de Confúcio, a vida privada, na prática, era menos controlada e a produção Shunga é um fenómeno único na produção artística pré-moderna não só em termos de quantidade e qualidade, mas sobretudo pela sua temática erótica (1).<br /> O que torna a série “Entre Quatro Paredes” de Rodrigo Oliveira a vários níveis assinalável e um marco no seu percurso, é como parte de um período temporal e cultural distinto das suas obras anteriores em que o modernismo era a referência e a cultura era a ocidental. Agora os referentes são do século XVII e XVIII e a Oriente. Como se isto não bastasse opta não pela escultura e instalação, linguagens que identificamos com a sua produção – e que estão igualmente presentes na exposição, já lá iremos – mas pela pintura, mais precisamente aguarelas.<br /> Durante os dois últimos anos pintou obsessiva e devocionalmente quase como quem reza ou repete uma litania, estes papéis, cujos motivos foram retirados da pintura Shunga, mas em que foram removidos os corpos e o conteúdo sexual explicito, os falos e genitálias dessas “pinturas da primavera” em que escorre a seiva e outros líquidos, ficando só o chão, o tecto, as riscas, os padrões florais ou geométricos das paredes de correr típicas da arquitectura japonesa, as flores, os pássaros, o jardim, um estore, um pagode.<br /> Embora remetam para ambientes domésticos ou interiores de casas, parecem mais palcos, cenografias para actos sexuais que agora ao serem omitidos instalam nestas aguarelas uma dupla sensualidade: a da pintura em si mesma, o acto minucioso e delicado de pintar e o retirar dos corpos, suave e delicadamente deixando somente o seu entorno.<br /> Não só a pintura é cosa mentale como o sexo se torna – senão o é sempre – cosa mentale, agora que não temos acesso á sua representação e figuração e fica somente um par de chinelos, descalços apressadamente, pensamos, pelo modo como estão desalinhados no chão; um tronco-mesa de apoio com um objecto pousado, um cachimbo? A acumulação de prazeres, o fumar depois do sexo… Só fica isto nestas obras mas a nossa imaginação dispara em fantasias várias do que poderia estar representado nas pinturas que lhe deram origem.<br /> Em termos plásticos parecem sair de uma banda desenhada, nomeadamente do Tintin de Hergé no modo como o traço está muito bem definido, a famosa linha clara que não é apenas um estilo gráfico mas também narrativo, legível, em que o desenho assenta naquilo que se quer contar. Ora, então, em “Entre Quatro Paredes”, o que agora se parece querer contar são histórias de espaços e arquitecturas, histórias de paredes que acolheram corpos em cores claras que vão desde a suavidade dos ocres e dos rosas até outras cores fortíssimas, amarelo e vermelho saturados que remetem para a pop art.<br /> No processo desta pinturas, Rodrigo Oliveira chega aos biombos Namban, mais precisamente o pintar detalhes das costas dos biombos, pintar o que está atrás, o escondido e chega a um registo quase monocromático, atmosférico. Não por acaso a palavra Namban em japonês significa parede.<br /> Uma parede, literalmente uma parede é a obra que se pode ver na segunda sala, intitulada “Transladação” mostrada pela primeira vez em Madrid nos Project Rooms da feira de arte Arco em 2018. E aqui estamos no que é o território com o qual identificamos a obra de Oliveira: a arquitectura e o modernismo como referencias. “Transladação” remete para a passagem do tempo, o musgo e a água de muitos lugares-espaços modernos hoje votados ao abandono, ruínas, a arqueologia do moderno.<br /> E a unir o antes e o depois os “Diabolos”, esculturas que partem dos candeeiros desenhados por Corbusier e agora revisitados com materiais de origens bem mais prosaicas e de uso quotidiano, outra característica do trabalho de Oliveira, como os corredouros que se usam (ou usavam) nas mercearias para mover e medir os cereais e que agora acondicionam lâmpadas.<br /> E a unir tudo, o postal que Walter Gropius escreveu a Corbusier em 1954 do Japão e lá está uma casa e um jardim japonês de um templo zen em Kyoto e as palavras de quem se sente excitado, literalmente “excited”, frente ao encontro com a arquitectura e cultura japonesas.<br /> “Sexo, Escondidas e uma Parede” é uma exposição que convoca a excitação dos primeiros encontros, seja o despertar da sexualidade no jogo das escondidas em que os corpos se escondem e tocam, sejam outros mais elaborados como o prazer intelectual face a um edifício ou a uma pintura.<br /> Isabel Carlos</p> <p>(1) Cf. “Shunga, sex and pleasure in Japanese art” , British Museum, 2013</p> <p>RODRIGO OLIVEIRA (1978, Sintra) e vive e trabalha em Lisboa.</p> <p>Licenciou-se em Artes Plásticas – Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (1997/2003) e concluiu o Mestrado em Artes Visuais pelo Chelsea College of Art & Design, Londres (2006). Em 2013 vence a bolsa de estudo da Fundación Botín, Santander / Madrid, Espanha e desde 2017 é doutorado em Arte Contemporânea, pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.</p> <p>Expõe individualmente desde 2003, de onde se destacam: Utopia /Distopia Part II_ MAAT Museu, Lisboa (2017), “De lá Ville à lá Villa; Chandigarh Revisited, Le Corbusier Villa Savoye Poissy, Paris (2016), Utopia At Plateau And An Indian Brasília, Galeria Filomena Soares, Lisboa (2016) Projecto Parede (2013), MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Coisas de Valor e o Valor das Coisas (2011), Cosmocopa – Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil; A primeira pedra (e todas as outras mais) (2011), Museu do Chiado, Lisboa; Ninguém podia dormir na rede porque a casa não tinha paredes (2010), Galeria Filomena Soares, Lisboa; e Utopia na casa de cada um (2009), Centro das Artes Visuais, Coimbra.</p> <p>Participou em inúmeras exposições colectivas, destacando-se: Cor+Labor+Ação (2011), Casa Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil; ResPública 1910 – 2010 face a face (2010), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; A Culpa Não É Minha (2010), Museu Berardo, Lisboa; Where are you From? Contemporary Portuguese Art (2008), Faulconer Gallery, Grinnel, Iowa, E.U.A.; Eurobuzz, Agorafolly – Europália European Festival (2007), Place de la Chapelle, Bruxelas; e There’s no place like home (2006), Homestead Gallery, Londres.</p> <p>O seu trabalho encontra-se presente em diversas colecções públicas, tais como: Fundação EDP, Portugal; Museu do Chiado, Lisboa; Fundação PLMJ, Lisboa; Fundação Leal Rios, Lisboa; Colecção PCR, Lisboa; Colecção António Cachola, Elvas, Portugal; e Peggy Guggenheim Museum, Veneza.</p>

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