Peter Zimmermann
29.mar.2012 | 19.mai.2012
Press
Press Release
<p>A Galeria Filomena Soares apresenta um conjunto de novas pinturas do artista alemão Peter Zimmermann (1956, Freiburg), de 29 de Março a 19 de Maio de 2012. A inauguração decorrerá no dia 29 de Março – 5.º feira – pelas 21h30 com a presença do artista.</p>
<p>Zimmermann tem desenvolvido, há mais de duas décadas, uma expressão muito própria do abstraccionismo contemporâneo, francamente expresso no seu material de eleição: resina epoxy. As características de um material viscoso, de difícil controlo e do seu acabamento artificial – entenda-se não manual ou artesanal – introduzem um aspecto pertinente no modo de ver e de fazer a pintura: a conceptualidade entendida entre a incerteza do objecto e a sua representação.</p>
<p>Inicialmente, partindo de um referente histórico recente – nomeadamente, a história da pintura abstracta, através da obra de Mondrian, Malevich ou Pollock – o artista desenvolveu formas de representação do próprio abstraccionismo reproduzindo-o e revisitando-o de um ponto de vista realista. Ao copiar minuciosamente posters de exposições e, inclusive, pinturas desde pintores, Zimmermann questiona sobre a gestualidade e o expressionismo desta abstracção, reflectido estética e teoricamente sobre os problemas da representação da pintura numa era tecnológica. As pinturas consequentes oscilam entre composições mais geométricas e padronizadas e outras mais intuitivas de um lirismo poético desconcertante. Posteriormente, o artista rompe definitivamente com as últimas premissas que mantinham a sua obra ligada à realidade visível. O trabalho exaustivo em programas de computador de tratamento de imagens digitais, a partir de imagens encontradas na internet de referências do mundo contemporâneo ou de fotografias antigas, desconstrói o referente sem apagar o seu conceito. Quando transferidas para a tela, estas imagens ganham novas características inerentes às especificidades do material utilizado.</p>
<p>A resina, à qual foram previamente dissolvidos pigmentos de cores puras muitas vezes estridentes, é aplicada sobre a superfície branca da tela, dando assim a sensação que uma luz interior emana da obra, intensificando as suas cores. Simultaneamente, cada cor tem sempre um efeito singular em relação com o fundo e em contraste com as cores circundantes. Por vezes, as camadas do topo assumem-se como o fundo e, ao invés, as camadas inferiores parecem surgir mais à superfície, patenteando assim um exímio jogo de translucidez e ilusão de óptica. Sucede também, nalguns casos, a tela estar visível, integrando desta forma a composição da obra. As composições com diversos padrões, nas quais se destaca a combinação de cores primárias e secundárias que, em associação à repetição ritmada das formas, criam um harmónico movimento que traz à memória as produções industriais. A evocação de um movimento fluido e moroso, contrariando as formas estáticas das composições ritmadas representa um momento soberbo da sua obra e do uso da resina sabiamente vertida sobre a superfície da tela mediante o uso de stencils. Formas amorfas sobrepostas parecem fundir-se enquanto se vão espalhando pela superfície pictórica para logo voltarem a recolher-se. Gotas mais pequenas e mais escuras justapostas a gotas maiores e mais apagadas formam camadas de cor aprisionadas em piscinas endurecidas de epoxy. Uma epifania da cor e de transparências da qual resultam superfícies luminosas com um colorido quase psicadélico. Mais recentemente, o artista tem introduzido pintura a aerógrafo que atesta profundamente a artificialidade e indefinição às formas reveladas. O relevo, a luz, a transparência ou opacidade, o brilho ou o mate apontam-nos para uma figuração oculta, revelada através da luxuosa sensação retiniana provocada nos seus espectadores.</p>
<p>A relação primordial que o artista revela no manejo do material que utiliza para pintar indicia uma cumplicidade ritualizada entre ambos. Intermediada pela própria acção de pintar, esta relação permite elaborar uma pintura racionalizada e intelectual e, por outro lado, as sensações tácteis que ressaltam das suas obras premeiam um sentimento inebriante e luxuoso envolto numa sensação de questionamento sobre o que se vê e o que representa. A dúvida, aqui encontrada, parece tornar-se mais evidente quando o brilho das telas reflecte o espectador ou, como noutros casos, o mate das pinturas absorve a sua envolvência. Neste efeito de desvelar e ocultar encontramos a preocupação central na obra de Zimmermann, ou seja, em que momento – espaço-tempo – a pintura resvala para a representação de algo ou para o abstraccionismo da representação de si mesma, ou no encontro entre as duas visões, onde o espectador reflecte mais sobre si próprio do que propriamente sobre aquilo que visiona. Este auto-processo é efectuado, tal como as pinturas, em dois sentidos complementares: por um lado, um processo intelectual e racional de auto-análise e, por outro lado, uma série de sensações e sentimentos, muitas vezes, inexplicáveis. Neste sentido, as pinturas de Zimmermann são um veículo que permitem o auto-questionamento e a auto-comiseração, num percurso solitário onde cada qual expõe as suas fraquezas e as suas forças ou os seus medos e as suas bravuras.</p>
<p>As pinturas de Zimmermann, e não obstante as suas propriedades absolutamente retinianas, são o resultado de uma particularíssima investigação estética e de um processo intelectual e tecnológico de experimentação. O artista explora as potencialidades da imagem que conduzem o pensamento do espectador através de um percurso mental que vai para além dos limites da tela, questionando-nos sobre aquilo que vemos ou sobre nós próprios.</p>