Pedro Barateiro | Saga
23.nov.2017 | 06.jan.2018
Press
Press Release
<p>Saga | Pedro Barateiro – 23.11.17 – 06.01.18</p>
<p>Inauguração quinta-feira 23 de Novembro, 21h30</p>
<p>A Galeria Filomena Soares tem o prazer de anunciar a segunda exposição individual do artista Pedro Barateiro, intitulada Saga. A exposição mostra o trabalho que Barateiro tem vindo a desenvolver nos últimos dois anos, em particular o conjunto de novas obras que se relacionam com a série Dancing in the Studio (Protest) e o vídeo The Opening Monologue.</p>
<p>As obras que compõem a série Dancing in the Studio (Protest) são ao mesmo tempo fotografia e escultura. Na procura pela hibridização dos meios, o dispositivo criado para suportar a imagem é parte integral de cada peça. Algumas destas imagens foram feitas quando o artista aplicou tinta branca num chão de linóleo que cobria parte do seu atelier. As marcas dos ténis e o arrastar dos pés ficaram gravados na superfície pintada. Depois disso o artista tirou uma série de fotografias que documentavam a acção. As imagens foram tiradas em 2013 e Barateiro voltou a pensar nelas quando preparava a exposição para a REDCAT, em Los Angeles. As fotografias documentavam uma acção mas remetiam para outras acções que decorriam no exterior do estúdio do artista, na altura na Avenida da Liberdade, muito próximo do palco de muitas manifestações que tiveram lugar em Lisboa durante esses anos.</p>
<p>O artista tem-se debruçado sobre as diversas questões presentes na construção de narrativas ficcionais e discursos totalitaristas do Ocidente, em particular as ferramentas usadas na colonização do pensamento e da imaginação durante o capitalismo tardio. A linguagem e a oralidade, mas também a coreografia e a teatralidade dos gestos produzidos por agentes humanos, tem sido predominante na cultura ocidental e na sua ligação à ideia de progresso positivo da ciência e da tecnologia.</p>
<p>O texto que dá título às esculturas/ fotografias apresentadas na exposição Live from the West na REDCAT, foi terminado ainda em LA, a cidade que representa uma espécie de fim, ou beco sem saída, que a cultura ocidental fez para si própria. O texto, que não fui utilizado na altura, é agora a estrutura para o vídeo The Opening Monologue. The Opening Monologue é uma narrativa circular, não-hierárquica, onde as palavras tentam resistir as forças colonizadoras das imagens e dos sons que a compõem. O vídeo é construído a partir de imagens do próprio artista mas também de GIFs e vídeos retirados da Internet. A voz é manipulada, entre humano e máquina, e a banda sonora uma composição feita de sons ambiente, demonstrações políticas e um evento red carpet.</p>
<p>As obras apresentadas nesta exposição tentam entender de que forma as narrativas ficcionais influenciam, e manipulam, os acontecimentos reais em todo o planeta. As alterações na nossa percepção de um mundo em crise ideológica e ambiental são o resultado da nossa incapacidade de reacção e compreensão do lugar onde vivemos. Uma das formas como a nossa percepção tem sido alterada pelas narrativas ficcionais é visível, por exemplo, na palavra post-truth (na sua tradução para português como pós-verdade). Considerada pela Oxford Dictionaries como a palavra do ano de 2016, é um adjectivo que se refere ao momento em que os factos objectivos são menos relevantes em formar a opinião pública do que apelos à emoção ou crenças pessoais. Esta expressão reapareceu em 2016 devido à eleições nos EUA e ao referendo em Inglaterra sobre a União Europeia, mas está também associada a uma falsa participação política das pessoas nas redes sociais. A palavra está associada a políticas populistas e demagógicas.</p>
<p>Os desenvolvimentos científicos produzidos em laboratório definem muito da forma como a ideia de cultura se manifesta no mundo ocidental. Na Europa, essa ideia de cultura está historicamente ligada à agricultura e à religião, pela via de uma teatralização dos acontecimentos. A exposição trata de questionar o Ocidente através da obsessão moderna de progresso, que agora sabemos incapaz de proteger entidades humanas e não-humanas de situações limite. As obras nesta exposição tentam desmantelar as formas que colonizam a nossa imaginação, desprogramar e questionar como a linguagem tem sido manipulada através de novos utensílios, desde mensagens escritas até programação de computadores. A oralidade e a escrita são as tecnologias mais antigas criadas pelos humanos. Podemos dizer, então, que a poesia e a produção artística são as ferramentas adequadas para descolonizar o nosso cérebro e os nossos corpos? Estaremos nós sob um feitiço? Enfeitiçamo-nos a nós próprios? Talvez sim. E será por isso que dizemos que a linguagem tem poderes mágicos? O que podemos fazer para quebrar o feitiço e será que o queremos?</p>
<p>–Pedro Barateiro (Almada, 1979) vive e trabalha em Lisboa. Neste ano, depois de ter participado na Bienal de Sharjah no Beirut Art Center, no Videobrasil (São Paulo) e na Bienal Anozero (Coimbra), uma colectiva no Palais de Tokyo entre outras exposições colectivas, simpósios e performances, o artista teve também exposições individuais no Netwerk Aalst (Bélgica), Basement Roma, e Néon (Lyon). A monografia How to Make a Mask, editada pela Kunsthalle Lissabon e pela Sternberg </p>