Pedro Barateiro | Feitiço
17.jan.2013 | 09.mar.2013
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Press Release
<p>A Galeria Filomena Soares apresenta a exposição individual do artista Pedro Barateiro (Almada, 1979), intitulada Feitiço / Spell, inaugurada dia 17 de Janeiro, quinta-feira, pelas 21:30, e patente até o dia 9 de Março de 2013. A exposição apresenta um conjunto vasto de novas obras que incluem uma série de fotografias intervencionadas, esculturas, pinturas e uma instalação-vídeo.</p>
<p>A obra multifacetada que o artista tem desenvolvido não se relaciona directamente com os materiais nem com os meios plásticos disponíveis. Escultura, instalação, vídeo, pintura, desenho, fotografia e texto têm servido como um amplo campo de actuação no escrutínio de um código sobre os sentidos e os significados da imagem. Partindo de uma extensa recolha de documentos visuais e escritos sobre uma gama diversificada de contextos, realidades e culturas, o artista, tal como um crítico-antropólogo, reutiliza esta informação para recriar novos conceitos e novas propostas. Sem ser dogmático, nem tão pouco afirmativo, as interrogações de Barateiro excedem a mera adição entre as partes apresentadas. A conjugação dos vários elementos reflecte uma atenção cuidadosa sobre a percepção da realidade e determina, à partida, a descodificação fragmentada e imprecisa sobre essa mesma realidade. Neste sentido, as imagens-ready-made transformam-se num vocabulário muito próprio de um complexo alfabeto. Em grande medida, a linguagem que o artista produz vale-se de si própria, mas a introdução de contextos populares do colonialismo ou da arquitectura modernista, entre outros, introduzem uma outra dimensão política e histórica.</p>
<p>O título da exposição é dado a partir de um novo filme do artista: uma narrativa feita de uma recolha de imagens do exterior e interior da Casa de Vidro em São Paulo, construída em 1951 pela arquitecta Lina Bo Bardi para a sua residência, mas também de filmagens a telas utilizadas como cenários em peças de teatro que se encontram em depósito no Museu do Teatro em Lisboa e, ainda, filmagens de fotografias que registam a representação da Tragédia Formiguinha da Boa Morte, por um grupo de teatro popular de São Tomé e Príncipe, conhecido como tchiloli. Os grupos tchiloli, que também são apelidados de tragédias, são grupos de teatro amador com cerca de trinta elementos cada um. A palavra crioula tchiloli é sinónima de teatro e deriva etimologicamente do português tiroliro (pífaro), a flauta transversal que se toca durante o espectáculo. Os temas chave do tchiloli são a traição e a igualdade perante a lei. António Almada Negreiros (1868-1939), o pai do artista José Almada Negreiros, é o primeiro a referir as tchiloli no seu livro História Ethnographica da Ilha de S. Thomé (1895:167, 343). O texto que o artista escreveu para o filme tem a locução dos músicos Allen Halloween e Lula Pena.</p>
<p>Os dípticos intitulados “An Alphabet” retomam o trabalho de descodificação de sentido entre duas imagens distintas. Enquanto a imagem da esquerda apresenta uma série de esculturas de diversas origens, a imagem da direita – fotografias de chumaços – funciona como uma espécie de legenda livre feita por um novo alfabeto. Reflectido conscientemente sobre a construção de um alfabeto de formas como utensílio básico para uma linguagem, o interesse de Barateiro pela linguagem refere-se não apenas à linguagem escrita, que tem utilizado no seu trabalho recente, mas à linguagem como forma de construção de imagens visuais.</p>
<p>As pinturas revelam outra preocupação que tem acompanhado o trabalho do artista: o dispositivo ocidental de apresentação museológica e as marcas de empresas comerciais. Plintos vazios e logótipos transformam-se em modelos pictóricos.</p>
<p>A instalação “Formas de Negociação” é composta por três mesas que simulam uma linha de montagem fabril, com cilindros de madeira, e uma série de caixas de papelão com um reconhecível logótipo da marca norte-americana de comércio electrónico: Amazon. Esta obra vem pertinentemente reflectir e discutir o modo de consumo exacerbado das sociedades contemporâneas, nomeadamente ocidentais. A assimilação de produtos culturais, através de uma empresa multinacional de produção em massa, altera a forma de recolha e de promoção do próprio conhecimento cultural. Na facilidade com que actualmente tem-se acesso a informação questiona-se a fugaz apreensão da mesma. Deste modo, o indecifrável código constantemente reinventado pelo artista intensifica a atenção e a acuidade dos seus espectadores. Ao promover esta intensa dedicação, as obras de Barateiro tentam promover um profundo conhecimento sobre a sociedade que nos rodeia, sobre o modo de relacionamento entre os seus diversos intervenientes e, particularmente, sobre a Arte.</p>
<p>Os próximos projectos do artista incluem a participação na exposição colectiva Arqueológica, no Matadero em Madrid (Janeiro de 2013), uma exposição individual no espaço ARTES, no Porto (2013) e no Kettle’s Yard, Cambridge, Inglaterra, a edição de uma monografia sobre o seu trabalho e a residência artística no AIR-Antwerpen, Antuérpia, Bélgica.</p>