Igor Jesus | A última carta ao Pai Natal
26.nov.2015 | 16.jan.2016

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<p>A obra de Igor Jesus é atravessada por revelações sibilinas e desencontros. Ou melhor, tanto o espaço da obra como o da exposição são lugares onde o artista marca a impossibilidade de um encontro primordial entre a vida e os seus possíveis significados, através de um jogo de metáforas. Recorde-se o vídeo autobiográfico O meu pai morreu no ano em que eu nasci, 2014, em que o corpo do pai falecido “desce” e se apodera do da médium, escolhendo não dialogar com o filho ao fazê-la apagar as velas. Não será exagero considerar que esse espaço obscuro do abandono se encontra representado na configuração espacial desta primeira exposição do artista na Galeria Filomena Soares.</p> <p>Aqui, tal como na sua mais recente mostra individual Debaixo do sol (29 Janeiro a 26 de Fevereiro, Appleton Square, Lisboa), a obra e o espaço de exposição têm uma relação ora agonística, ora de inversão de papéis. Por exemplo, a black box (espaço convencionalmente dedicado ao vídeo e que se encontra amiúde arrumado ao fundo da exposição ou numa sala à parte) atravessa-se no caminho do espectador, fazendo com que ele penetre na galeria influenciado pelo vídeo com o mesmo título que a presente exposição, A última carta ao Pai Natal, 2015. Neste, em vez de ser proposto ao espectador identificar-se com o filho ou o pai, reproduz-se a perspectiva de um personagem fictício prestes a perder a sua magia, o Pai Natal. Segue-se um percurso desencantado de casa em casa, entrando e saindo pelas chaminés.</p> <p>Assim, tal como a aventura peripatética do Pai Natal assume uma carga voyeurística pela literalização do seu percurso, o espaço da exposição é despido da sua função artística. Torna-se o lugar de uma ausência – um “cenotáfio”, diria Igor Jesus – reforçada pelas esculturas feitas com elementos domésticos, marcados ainda por um corpo que já não as usa, como Domingo, 2015, feita com sapatos de uma família cosidos uns aos outros e levantados do chão. Ao fundo, uma “pintura”, como o artista se refere a esta escultura modular, forma uma parede que corta o espaço e teatraliza a arte abstracta e monocromática (De costas voltadas, 2015).</p> <p>Igor Jesus descreve a exposição como o inverso da aventura espacial do astronauta, ou a “descida como processo de procura”. Poderíamos ir mais longe e sugerir que há uma busca nos dois sentidos. Para cima: os sapatos que se levantam, a parede que se ergue, e o vídeo POV, 2015, colocado sobre a vertical mas repetindo, em loop, uma queda. É nesse momento vertiginoso que a presença do espectador lhe é devolvida, nem filho(a), nem pai (ou mãe), mas corpo, ali.</p> <p>Joana Neves<br /> Novembro 2015</p>

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