Herbert Brandl | RIOSBRANDL2015
21.mai.2015 | 19.set.2015
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Press Release
<p>A Galeria Filomena Soares tem o prazer de apresentar, pela segunda vez no seu espaço expositivo, as mais recentes obras do pintor austríaco HERBERT BRANDL (Graz, 1959). Intitulada RIOSBRANDL2015, a exposição inaugura, com a presença do artista, no dia 21 de maio, pelas 21h30 e estará presente até ao dia 19 de setembro de 2015.</p>
<p>O trabalho pictórico de Herbert Brandl insere-se, de certa forma, no contexto da tradição romântica que a pintura germânica tem vindo a desenvolver desde o século XVIII. Muito influenciada pelo conceito filosófico do sublime de Edmund Burke e de Immanuel Kant, a pintura romântica esteticizava uma qualidade natural de extrema amplitude ou de força que transcendia o mero conceito de belo. Deste modo, os pintores transmitiam um sentimento de inacessibilidade diante de algo incomensurável, fazendo o espectador experenciar sentimentos contraditórios: por um lado, o deslumbre e o encanto pela impressionante imagem observada; e, por outro lado, o medo e o horror diante dessa mesma imagem, frequentemente, uma paisagem tumultuosa. Nesse instante, preso entre estas duas sensações, revela-se um valor estético de importância primordial para uma arte que, sendo introspetiva, se relaciona sempre com o exterior que a rodeia.<br />
As obras de Brandl resgatam esta dupla experiência. A relação entre o figurativo e o abstracto, através de pinturas de grandes dimensões, revela-se como uma estratégia que obriga o espectador a movimentar-se diante da tela para melhor apreender a realidade que se apresenta diante de si: uma sublime paisagem. A própria confrontação com as escalas dessa paisagem, observada mais de perto, como um pormenor, ou mais de longe, como uma grande panorâmica, contribui, também, para a inconstância dos seus espectadores. Estes, inebriados entre as pinceladas, ora mais salientes ora mais desfocadas, perdem-se por lugares desconhecidos e desafiantes.</p>
<p>A pintura de Herbert Brandl remete-nos, igualmente, para uma reavaliação do género da paisagem no contexto da História da Arte e para a forma como, de um certo modo, a história deste género pode ser (re)lida à luz da contemporaneidade. O pintor, partindo de referentes históricos e não propriamente da observação de uma paisagem verdadeira ou natural, revela uma análise atenta e crítica em relação à história da paisagem, à sua apropriação e aos seus usos. As referências são constantes a uma colecção de imagens: de Caspar David Friedrich (1774-1840), passando por Claude Monet (1840-1926) até Jackson Pollock (1912-1956), entre outros. A representação da paisagem já não trata de um arquivo exótico ou documentarista sobre as realidades que a humanidade não domina ou desconhece. Trata, neste caso, de um arquivo pessoal em que, mais do que imagens exteriores, se tenta alcançar uma paisagem de sentimentos íntimos e interiores. Assim, a interioridade é revelada através de uma exterioridade que imana do seu âmago contido.</p>
<p>O arquivo imaginário de Brandl confronta-se, ainda, com os arquivos museológicos, uma vez que o seu ímpeto pessoal se contrapõe tanto ao gosto vigente como às necessidades políticas das imagens conservadas nos museus. Se estas últimas traduzem as concepções dominantes do poder exercido pelo Homem sobre a Natureza, as imagens que Brandl propõe, através de pinceladas intensas e livres, revelam paisagens selvagens e incontroláveis. E é como se o descontrolo destas imagens invertesse o poder anteriormente edificado, ou seja, é, aqui e agora, a Natureza que controla o Homem. Os museus e as suas obras perdem, assim, o poder dominante e a legitimidade do “impulso arquivista”, deixando que os seus espectadores projectem nas realidades históricas distantes as suas próprias realidades e vivências. Este efeito revela-se e é, simultaneamente, traduzido nas imprecisões e nas impurezas das eficazes pinturas que Herbert Brandl nos apresenta.</p>