Dias & Riedweg | Sentidos sem direcção e outras direcções de sentido
10.set.2009 | 08.nov.2009
Press
Press Release
<p>Com a escolha do título Sentidos sem direcção e outras direcções de sentido para a primeira apresentação do seu trabalho em Portugal, Maurício Dias e Walter Riedweg anunciam de imediato o tema condutor de uma exposição por todos muito aguardada e que, por isso mesmo, compreenderá obras de 1998 até aos trabalhos mais recentes realizados no inicio do presente ano de 2009.</p>
<p>Maurício Dias licenciou-se em Belas Artes e Walter Riedweg em música, teatro e perfomance. A combinação destas valências terá seguramente propiciado o recurso aos diferentes dispositivos teatrais, documentais, plásticos e sensoriais de que se servem para realizar os seus filmes e vídeo-instalações, e ainda contribuído para o facto de se terem tornado uma referência no panorama artístico internacional confirmando as possibilidades e a viabilidade de um trabalho colaborativo em arte contemporânea.</p>
<p>Dias & Riedweg trabalham juntos desde 1993. Desde então, os seus trabalhos têm vindo a abordar uma diversificada gama geográfica e social, servindo a sua arte de plataforma de reflexão sobre questões humanas tanto individuais como colectivas, no caso desta exposição: a imigração, o exílio e o deslocamento.</p>
<p>Em cada trabalho realizado uma história é construída, ao mesmo tempo, que produz temporária, ou mesmo permanentemente, uma fissura, uma interrupção, um distanciamento na ordem dos sentidos e no curso das coisas.</p>
<p>Ainda que abordam temas caros à produção documental contemporânea, os projectos Dias & Riedweg não são elaborados a partir de uma tradição documental e os artistas nem tão-pouco reivindicam essa filiação. Jogando com a dicotomia entre o documentário e o ficcional, renovam o diálogo entre o documentário, a arte contemporânea e as estratégias colocadas em cena para reacender o real. Nos seus projectos, existe o que poderemos entender por documentação das coisas reais, realidades, formas de viver, e, concomitantemente, uma reinvenção dessas formas, onde as cenas são proposições fictícias.</p>
<p>Ocupando na totalidade as duas áreas da galeria, a exposição apresenta um vasto conjunto de trabalhos desenvolvidos a partir de diferentes media e abordagens discursivas que se relacionam entre si a partir de um denominador comum que os artistas têm vindo a pesquisar nos últimos anos: o tema do deslocamento.</p>
<p>O conjunto propõe uma abordagem à diversidade de elementos subjectivos e factos que originam o deslocamento tanto de objectos como de pessoas no espaço físico em que se inserem.</p>
<p>Servindo-se alegoricamente de objectos de viagem e veículos de transporte -cuja natureza transitória pressupõe uma transferência contínua de lugar – Dias & Riedweg ilustram paralelismos entre o simples deslocamento de objectos e os complexos processos históricos e políticos que originam migrações humanas nas mais diferentes regiões do mundo, transferindo, deste modo, o centro de um intrincado e omnipresente fenómeno das sociedades contemporâneas para a esfera da filosofia e da subjectividade pessoal.</p>
<p>Das inúmeras exposições individuais e colectivas onde têm apresentado os seus trabalhos nestes dezasseis anos de parceria destacamos as participações na Bienal de São Paulo em 1998 e 2002, na Bienal de Veneza em 1999 comissariada por Harald Szeemann, e, mais recentemente, em 2007, a participação na Documenta 12, Kassel.</p>
<p>BREVE DESCRIÇÃO DAS PEÇAS EXPOSTAS</p>
<p>À entrada da galeria, no EXTERIOR do espaço expositivo, a primeira obra de Sentidos sem direcção e outras direcções de sentido prenuncia as reflexões sobre os temas do deslocamento, mudança e imigração de objectos, mote da exposição.</p>
<p>Referimo-nos ao projecto Caminhão de Mudança iniciado em 2009. Um camião de mudanças estacionado em frente aos portões da galeria serve de suporte para a projecção de um vídeo e consequente realização de uma nova fase, que Dias&Riedweg designam de camadas, de um projecto actualmente em curso e cuja natureza pressupõe uma transformação gradual e progressiva.</p>
<p>As fases antecessoras, são novamente exibidas sobre uma tela de retroprojecção colocada na traseira do veículo. Este evento é novamente filmado pelos artistas e transmitido live para dentro da galeria, onde a partir do dia seguinte passará a integrar a exposição.</p>
<p>Em Lisboa os artistas darão assim continuidade a um projecto já iniciado: a primeira filmagem decorreu em Bruxelas, na inauguração do Festival des Arts. A segunda na Park Avenue em Nova York na abertura da exposição dos artistas na Americas Society, onde apresentaram as imagens registadas durante a inauguração anterior no Festival belga. É justamente o último registo, realizado em Nova Iorque, a ser transmitido na inauguração da exposição Sentidos sem direcção e outras direcções de sentido.</p>
<p>Uma projecção inclui a projecção de outra projecção, acumulando camadas que indicam o passar do tempo e o deslocamento das coisas.</p>
<p>SALA PRINCIPAL</p>
<p>Os Raimundos, os Severinos e os Franciscos, realizado no âmbito da XXIV Edição da Bienal de São Paulo em 1998 sob o tema da antropofagia, remonta aos primeiros anos desta parceria e representa uma das obras mais significativas dos projectos com assinatura Dias & Riedweg. </p>
<p>Este trabalho versa sobre o canibalismo ético que rege as relações entre as classes sociais na capital paulista. Uma projecção coreográfica de 4 minutos realizada com um grupo de porteiros de São Paulo, todos chamados Raimundo, Severino ou Francisco, nomes comuns no Nordeste brasileiro, que migraram para São Paulo à procura de trabalho na construção civil.</p>
<p>Comummente, a maioria destes nordestinos tornam-se porteiros[1] dos edifícios que ajudaram a construir, sendo-lhes destinado um pequeno aposento para viver no prédio que os esconde e absorve na arquitectura da classe média da metrópole brasileira.</p>
<p>Este vídeo mostra-nos um cenário que reconstitui, precisamente, um desses quartos e os porteiros a entrarem como se estivessem a voltar para casa depois de um dia de trabalho. Todos vão entrando em cena, um depois do outro, sem comunicarem, como se estivessem sozinhos, até o espaço ficar lotado.</p>
<p>A representação dos exíguos quartos habitados por porteiros funciona como metáfora da invisibilidade social desse grupo, remetendo para o título da bienal – Antropofagia social. Será o porteiro a engolir São Paulo ou será pelo contrário São Paulo a engolir o porteiro?</p>
<p>Por último, aborda ainda a questão do deslocamento sob a perspectiva da condição do imigrante que “permeia não apenas as escolhas de vida de Maurício Dias e Walter Riedweg, mas principalmente as suas posições artísticas e políticas. É interessante pensar a configuração das próprias identidades dos artistas, um suíço e o outro brasileiro. (…) A viagem está na sua própria dinâmica de trabalho, já que a maioria de seus projectos é feita longe da realidade e dos territórios os quais pertencem. Ambos subverteram configurações e identidades pré-estabelecidas, assumiram o papel de viajantes olhando e descobrindo o mundo e suas múltiplas subjectividades (…)[2]”</p>
<p>Malas para Marcel é uma peça composta por 12 maletas, colocadas sobre pedestais, que no seu interior contêm leitores de DVD portáteis que transmitem o vídeo de sua própria memória. Num tributo às boîte-en-valise de Marcel Duchamp, estes objectos encerram em si a sua história, processo e destino.</p>
<p>Nos vídeos transmitidos em cada maleta vê-se a mesma a ser transportada por pessoas de identidade desconhecida através da cidade, a migrarem de um lugar para outro num trajecto indistinto e continuado: cada mala é deixada num lugar público e transportada por uma pessoa que passa e que seguidamente a abandona noutro lugar para ser recuperada por uma outra pessoa e assim consecutivamente como uma corrente contínua. Neste vídeo-objecto o próprio objecto é o seu tema. Não há narrativa, apenas o olhar periférico.</p>
<p>Num 13º pedestal, a projecção de um vídeo mostra o caminho das 12 maletas da chegada no aeroporto até o momento da montagem da exposição na própria galeria.</p>
<p>Por último, no 14º pedestal, referimos ainda o vídeo David & Gustav (2005), no qual dois artistas sexagenários, David Medalla e Gustav Metzger, falam alternadamente sobre arte, vida, imigração e política no contexto de suas próprias vidas.</p>
<p>Cada Coisa no seu lugar. Outro lugar, outra coisa (2009) um painel fotográfico em D-sec, composto por 9 fotografias, mostra-nos as malas para Marcel, que entretanto voltaram às prateleiras das lojas e se confundem com outras malas.</p>
<p>A Casa, A Casa (2007), vídeo-instalação de parede composta por cinco vídeos dispostos em monitores de ecrã plano de diferentes formatos sobre um plotter de vinil apresenta-nos a multiplicação da dupla de artistas Dias&Riedweg em cinco vídeos, sendo que, cada um deles encontramos os “vários Maurícios e vários Walters” em situações quotidianas. A multiplicação dos personagens em cada vídeo remete a tradição artística do auto-retrato para um tema caro a esta dupla de artistas: a alteridade. Dentro da temática da exposição, a leitura do paraíso possível em A Casa apresenta o outro como paraíso do self e vice-versa. Em A Casa, o self transforma-se numa soma de vários outros que o compõem. Uma vez mais, os autores nos recordam da fragilidade da fronteira entre os opostos real e ficção.</p>
<p>A série de fotos lenticulares, intitulada O Jardim (2008), revela-nos as mesmas personagens (os múltiplos Eus de Maurício Dias e Walter Riedweg) que paulatinamente vão assombrando os vídeos em A Casa.</p>
<p>Na SEGUNDA SALA, Paraíso Cansado (2009), uma vídeo-instalação realizada para a II Bienal das Canárias em 2009 que tem como cenário as dunas de Maspalomas, local que recebe todos os anos milhares de turistas de todas as partes da Europa para a prática sexual anónima denominada cruising.</p>
<p>Dois homens, um vestido de negro e o outro de branco, caminham em simetria sobre dunas de areia. Eles reconhecem-se e caminham em direcção um do outro. Passam um pelo outro. Vêem-se novamente e uma vez mais se dirigem um ao outro. Passam repetidamente um pelo outro. Um segue o outro. Encaram-se mas não se comunicam. Há uma atmosfera de desejo e de impossibilidade. O sol é a única testemunha do que acontecerá. Um oceano e um espelho como pano de fundo.</p>
<p>Esta peça encerra a exposição sugerindo que a relação entre o desejo subjectivo e a paisagem é um elemento principal na produção de deslocamentos e mudanças dos objectos e das pessoas no espaço geográfico que co-habitamos.</p>
<p>[1] Segundo o Sindicato de trabalhadores de São Paulo cerca de 90% desses trabalhadores são naturais do Nordeste Brasileiro. Só na cidade de São Paulo a dupla de artistas encontrou registados 1000 Raimundos, 1200 Severinos e 1500 Franciscos.</p>
<p>[2] HUAPAYA, Priscilla Schimitt . Alteridade como poética visual na estética videográfica de Maurício Dias e Walter Riedweg. In: XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2008, Natal. XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2008.</p>
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