Eu Vivo Confortavelmente no Museu
26.mar.2022 | 05.mai.2022
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Press Release
<p>Eu Vivo Confortavelmente no Museu</p>
<p>Em sua primeira exposição individual na galeria Filomena Soares, Daniel Senise apresenta uma seleção de dez obras realizadas desde 2020.<br />
Na série intitulada “Museu”, Senise conforma perspectivas não a um espaço de representação, mas nos expondo a vislumbres de um mundo-fantasma onde salões vazios soam desejar o tempo da eternidade em toda sua deterioração – esse mesmo tempo tão indiferente a nós, seres apaixonados. Assim como no diário do fugitivo ficcionado por Adolfo Bioy Casares em seu livro “A invenção de Morel” (1940), que empresta sua frase ao título da exposição, o que poderia se tornar ilusão é fabulado como abrigo da imagem; algo semelhante ao enigma do que é imaterial em sua narrativa, onde as memórias continuamente tomam corpo no presente, confundindo desejo e distância como o “sudário” o faz.<br />
A partir do que chama de “impressões do ateliê”, o artista se debruça sobre um comentário à história dos museus que constrange qualquer narrativa impessoal compreendida como conhecimento. Relega-o para além da mediação entre corpo e objeto e se realiza no que é resíduo ainda que fundamento, no que é resto ao mesmo passo que é origem. Daniel Senise encontra intenção a um impulso construtivo em meio ao acaso, naquilo que é próprio do que resta entre o gesto e o acidente – como a intervenção formal ao desgaste na mesa de seu ateliê no “quase aqui”, ou em um ponto de fuga imaginado entre os fragmentos de livros de arte.<br />
Dentre tudo que é evocado, ou não, no encontro com esta prolífica ainda que pequena seleção de obras inéditas, é ao menos ironizado por parte do artista qualquer tipo de conforto frente ao espaço de um museu. Onde o tempo dilatado da contemporaneidade se corrói em interstícios silenciosos, qualquer certeza se decompõe em palavras, poeira, ferrugem, cal. É dado lugar ao que é detrito do pensamento, na tarefa de erigir sentidos outros ao fugidio e complexo estado das coisas.</p>
<p>Matheus Morani, 2021</p>