Rui Chafes | Tranquila ferida do sim, faca do não
14.mar.2013 | 01.jun.2013
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Press Release
<p>A Galeria Filomena Soares apresenta a exposição individual de Rui Chafes (Lisboa, Portugal, 1966), intitulada Tranquila ferida do sim, faca do não. A inauguração no dia 14 de Março contou com a presença do artista e a exposição irá estar patente até o dia 1 de Junho.</p>
<p>«Um espaço, dependendo da sua estrutura geométrica, poderá ser investido de uma dimensão sacral que, normalmente, está ocultada. Muito mais difícil do que enchê-lo é esvaziá-lo, virá-lo do avesso, operar a sua inversão de forma a aproximá-lo do “quase nada”, do “antes do nada”. Torná-lo magro, como queria, desesperadamente, Alberto Giacometti. Um espaço austero, de redução e ascetismo, de total despojamento e esvaziamento. Não podemos ter medo do vazio, do silêncio e da ferida. A dimensão abstracta da religião passa, também, por essa coragem.</p>
<p>Trata-se de encher o vazio com o vazio, não de o encenar. Cada escultura é um núcleo cerrado, retraído, fechado para dentro, obscuro, concentrado; um espaço vazio, de clausura, uma prisão fechada sobre si mesma. Cada uma é um cárcere vazio, onde a luz se dissolve nas estreitas frinchas que definem a sua estrutura: uma concentração de escuridão que absorve a luz e o espaço. As suas escuras fendas são feridas íntimas, entradas íntimas para a obscuridade do corpo.</p>
<p>Uma escultura, no seu retraído formalismo e na sua impessoalidade icónica, cria um lugar hierático e rígido, um núcleo de redução, austeridade e ascetismo, uma transcendência através da depuração, da pobreza próxima da essência. Ausência de encenação: o vazio dentro do vazio. Ela não é só um objecto, é, também, a sua relação com o nosso corpo, a escala do confronto entre a nossa dimensão e o seu tamanho. Faz-nos pensar, também, a distância que percorremos até chegar ao pé dela, o tempo que demoramos, a consciência total do espaço que atravessamos e que, havendo a necessária coragem e confiança, nos levará a saber que “a primeira coisa a morrer são os olhos”.»</p>
<p>Rui Chafes</p>
<p>Lisboa, Fevereiro 2013</p>